terça-feira, 6 de outubro de 2009

Anônimos

Fecharam a porta atrás de si. Enfim, estávamos a sós. Ela, deitada, segurava um lençol por sobre o corpo, e me olhava candidamente. Para mim, que de pé a contemplava, aquilo era uma afronta. Me parecia que ela insultava: "Qual é? A gente tá sozinho, no seu quarto, eu deitada na sua cama, segurando o seu lençol contra meu corpo...Tá esperando o quê?".

Eu tinha os copos e pratos sujos nas mãos. Os recolhia à cozinha. Na TV, os créditos do filme que assistimos ainda corriam; tão anônimos quanto nós, àquela hora do dia, sozinhos, no meu quarto. Pus os pratos na mesa, ao lado do computador. Não deixei de olhá-la nem um segundo. Eu parecia um predador, à espreita da caça, que ao avistá-la, olha-a nos olhos e diz: "Já era. Você é minha!". Num passo felino, aproximei-me dela. Deitei na cama. Minha mão tocou-lhe a face. Ela diz: "-Você bem sabe, eu gostaria muito. Mas hoje, não dá. Meu pai já está chegando.".

Não ligo para o que ela diz. Apenas fito sua boca, sua grande e tentadora boca, da carne tão vermelha e sedutora que me ludibriou durante toda a sessão caseira de cinema. "Sim, eu sei. Mas eu não me importo com seu pai. Só quero saber de você." Aproximo-me mais, e minha boca não resiste à dela. Num beijo tão molhado o quanto podia, o desejo apenas aumentava.

Ela segurava o pedaço de pano azul contra o corpo, como num ato de ainda resistir ao que sentia, ao que queria. Minha mão correu-lhe a nuca. Dei-lhe calafrios, fazendo minha outra mão subir e descer por sua espinha dorsal. Lambi sua orelha e suspirei em seu ouvido, fazendo-a largar enfim o lençol e me abraçar ferozmente. Pus minha mão por baixo da saia dela, em suas coxas, e vinha subindo devagar, quando o telefone tocou. "Eu atendo", ela disse. E saiu do quarto.

Grito em meu íntimo uns palavrões. "Que droga! Logo agora..."

Era seu pai. Estacionara na porta do meu prédio, e lhe aguardava. "Tenho de ir embora", ela me disse. Nos beijamos outra vez. Mais apaixonados do que antes, mais excitados do que nunca. Tão anônimos quanto qualquer um.

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