terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mano Brother

Por trás de toda alegria
no fundo sempre existe uma dor.
Esta é minha filosofia
e minha experiência no amor.
Viver sofrendo,
sofrer sorrindo.
E sorrir mesmo sem motivo.

Qual é? Por que você
tá me olhando assim?
Quem devia chorar era eu,
mas veja: eu tô calmo!
Pais divorciados
e enterrados
eu tô jogado ao tempo
mas eu tô sorrindo.
Por quê? Sei lá!
Vem de mim!
Tô acostumado a sofrer
e minha vida é assim.

Sou filho único, graças a Deus.
Se tivesse irmãos, já seria castigo.
Meu pai me abandonou
disse não ter condições.
Porém sustentou outra mulher
e seus filhos.
Minha mãe, meu apoio,
também não ligou pra mim.
Minha mãe foi minha tia
e meu pai foi minha avó.
Não tenho dinheiro,
não tenho amor.
Eu sou alegre
por causa de tanta dor.

Quero contar minha história
mas ninguém quer escutar
quero que todos sorriam
mas começam a chorar.
Quero me divertir,
quero me libertar.
Quero ajuda
mas ninguém quer me ajudar.

Passa a grana,
passa a bolsa,
passa o relógio.
Passa a carteira,
passa a chave,
passa o celular.
Passa a vida,
passa mudo,
passa o bagulho.
Mas não se mova
porque eu não
quero te machucar.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A calcinha e a bolsinha

Eu vi bolsinha de calcinha
calcinha de bolinha
bolinha da calcinha na bolsinha
a bolsinha da calcinha na bolinha.

Azul era a calcinha
de bolinha era a bolsinha.
Bolinha branca, como na calcinha
que era azul, como a bolsinha.

Da menina, a bolsinha.
Da mulher, a calcinha.
No azul, a bolinha.
Curiosidade a minha.

Eu vi calcinha e bolsinha
azul e de bolinha.

A menina, mostra a bolsinha.
A mulher, mostra a calcinha.
E eu vi bolsinha e calcinha.
com rendado rosa,
como o zíper da bolsinha.

E a menina, e a mulher,
desesperada, tão sozinha;

Guarda sonhos na bolsinha.
E desejos na calcinha.

___

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Anônimos

Fecharam a porta atrás de si. Enfim, estávamos a sós. Ela, deitada, segurava um lençol por sobre o corpo, e me olhava candidamente. Para mim, que de pé a contemplava, aquilo era uma afronta. Me parecia que ela insultava: "Qual é? A gente tá sozinho, no seu quarto, eu deitada na sua cama, segurando o seu lençol contra meu corpo...Tá esperando o quê?".

Eu tinha os copos e pratos sujos nas mãos. Os recolhia à cozinha. Na TV, os créditos do filme que assistimos ainda corriam; tão anônimos quanto nós, àquela hora do dia, sozinhos, no meu quarto. Pus os pratos na mesa, ao lado do computador. Não deixei de olhá-la nem um segundo. Eu parecia um predador, à espreita da caça, que ao avistá-la, olha-a nos olhos e diz: "Já era. Você é minha!". Num passo felino, aproximei-me dela. Deitei na cama. Minha mão tocou-lhe a face. Ela diz: "-Você bem sabe, eu gostaria muito. Mas hoje, não dá. Meu pai já está chegando.".

Não ligo para o que ela diz. Apenas fito sua boca, sua grande e tentadora boca, da carne tão vermelha e sedutora que me ludibriou durante toda a sessão caseira de cinema. "Sim, eu sei. Mas eu não me importo com seu pai. Só quero saber de você." Aproximo-me mais, e minha boca não resiste à dela. Num beijo tão molhado o quanto podia, o desejo apenas aumentava.

Ela segurava o pedaço de pano azul contra o corpo, como num ato de ainda resistir ao que sentia, ao que queria. Minha mão correu-lhe a nuca. Dei-lhe calafrios, fazendo minha outra mão subir e descer por sua espinha dorsal. Lambi sua orelha e suspirei em seu ouvido, fazendo-a largar enfim o lençol e me abraçar ferozmente. Pus minha mão por baixo da saia dela, em suas coxas, e vinha subindo devagar, quando o telefone tocou. "Eu atendo", ela disse. E saiu do quarto.

Grito em meu íntimo uns palavrões. "Que droga! Logo agora..."

Era seu pai. Estacionara na porta do meu prédio, e lhe aguardava. "Tenho de ir embora", ela me disse. Nos beijamos outra vez. Mais apaixonados do que antes, mais excitados do que nunca. Tão anônimos quanto qualquer um.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Seu vestido azul

Se o visse na vitrine, certamente o odiaria.
Jamais gostei dum tom daquele, aquele azul.
Quando te vi, primeira vez, talvez diria:
só me interesso a plena alma por teu nu.

Foi num forte dia de ventania, você, altiva, radiante, seduziu.
Tão distante da minha ironia, meus olhos, tenho fé, você não viu.

Pois não somente vi teus seios,
tua boca ou tuas coxas;
Vi-te toda, ao mesmo tempo que não vi:
Se há quem sinta emoção em ir pra cama (tirar a roupa),
ali senti a tentação de te vestir.

Sim, de te tirar daquele azul tão intrigante, e te pôr num amarelo ou encarnado.
Porque teu corpo, visto assim, num cintilante, não me atrai tanto quanto no azulado.


Se me amas, se me queres, pois me entenda: não há nada que precises mais fazer.
Vista aquele seu vestido azul, colado. Saia no vento, em meio tempo eu vou te ver.

De minha boca, soprarei aos teus ouvidos, desejando o corpo todo alcançar.
Numa soprada ver teu rosto, tão rosado. E teu vestido, tão azul, a levantar.

Pois de mim, não aguardeis, nem mesmo escrevas.
Eu não me julgo a atenção ser merecido.
Mas se eu te ver, naquele azul, azul vestido,
em meus sonhos, não mais serei o teu amigo:
mas aguardeis, pois sonharei ser teu marido.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O amor é como o vento

O amor é como o vento:

Que me leva a roupa, pêlo e tempo.

Qual vertigem, qual miragem,

Qual balbucio de criança, qual bobagem.

É a folha seca ao cair no outono.

É a noite que te fez perder o sono.

O caminho tortuoso, a música da caixinha.

O canto do pássaro, a beleza que agora é minha.

Amor, amor...

Amor, sem dor.

Amor ou torpor?



Postagem de 17/10/07 em http://fa13jornalismo.blogspot.com

Mundana

Sinto o cheiro do gudang.

À minha frente, um maço e tchan-tchan:

Gudang achado, pra ficar relaxado.

Meu suor escorre na mesa deste bar.

Reviro a carteira, com quanto posso me embebedar?

Cervejas viradas, já não me fazem efeito.

Me traga um whisky, me mostra teu peito,

Meretriz insolente! Tu cobras e descobres;

Tu sentas e atiças meus sentidos menos nobres.

Numa cruzada de pernas me levou o juízo:

Senhor, meu Deus! Estou à beira do abismo!

Converta-me, Deus, me tire deste chão!

Mas não hoje, Senhor, hoje eu sou mesmo este cão.

De rosto prostrado, abatido e acabado;

De mãos a pender sobre a mesa, drogado.

Bêbado e feliz.

De coração vazio e um forte cheiro no nariz:

Cheiro de gudang.

Me devolva meu maço, meretriz infeliz!


Postagem de 23/10/07 em http://fa13jornalismo.blogspot.com

Espelhos

Ver

A beleza de ser

Para o outro, o melhor que há

A pessoa de sua vida estará lá

A olhar-te nos olhos e ver em você

Aquilo que sempre sonhou para ser

Feliz eternamente

Ser

Aquilo que nunca imaginou poder

Para sentir o amor chegando

De mansinho e ocupando

Seu coração

Pois à sua frente está quem vai te fazer sorrir

E só te quer ali

Juntinho, você

Do jeito que és

Sinta o cheiro, adore a beleza.

Goze das palavras, louve a presença

Incomparável, de sentimentos à flor da pele

Fulminante em exaltação

Em carinhos inacabáveis

Em sorrisos sinceros

Em olhares profundos

Em respiração rarefeita

Em mãos que se tocam

Em corpos aproximados

Em pulsações aceleradas

Em corações apaixonados

Em braços que se abraçam

Em beijos que se beijam

Demorados...

Namorados...


Postagem de 23/10/07 em http://fa13jornalismo.blogspot.com

Matrimônio (Sem plural)

Tomei por esposa minha solidão.

Dela só largo se me tomarem pela mão

e me conduzirem à outra estação,

aonde eu não mande mais em meu coração.

Ou, alternativa,

esta, mais sem sentido:

seria fazer-me viver de novo a vida,

porém sem me ter dado por entendido

tudo que descubro sem querer,

querendo apenas descobrir

que estive sempre errado ao me fazer

errar para não atingir.

Tomei por esposa minha agonia.

Esta, agora, é minha filosofia:

sem amores, sem rancores.

Sem dúvidas, sem temores.

Sem dores

ou problemas sem final.

Sem ditadores

ou palavras no plural.


Postagem de 09/04/08 em http://fa13jornalismo.blogspot.com

A fuga

Meu coração, aquele bandido,
está foragido.
Fez estragos, disse coisas.
Deixou-me agora sem sentido.
Percebo, porém,
algo que me fora dito:
Foi embora por ser mal,
ou, por ser ele assim, não teria partido?
Ou merece atenção o fato
de ser dele bem sabido:
que eu sou um alguém tão chato
que nem o pior me haveria merecido?
Ora, cante comigo, au revoir!
Ninguém é obrigado a me suportar.
Fique onde está, volte se quiser.
Minhas emoções, deixei nas mãos de uma mulher.
Se ela não quis, azar.
Eu é que não vou me preocupar.

Postagem de 26/10/08 em http://fa13jornalismo.blogspot.com

Far away

Por ser estranha à minha boca a tua ausência
é que me obrigo a te escrever a minha dor.
Por ser normal eu não medir as consequências
venho falar-te que ainda tenho amor.

De vez em quando até tentava não lembrar
mas do teu cheiro, teus carinhos, não esqueço.
De tanto em tanto fiz-me bobo a cortejar.
Me diz, então, tua presença, eu não mereço?

E sem querer sinto vontades de tentar.
E sem tentar sinto vontades de querer.
É bem mais fácil nem tentar me dominar,
pois que no fim tudo me leva a te querer.

E neste instante, em quem pensas, por quem rezas?
Ou quem está contigo, a sós, no aconchego?
Igual a mim, na solidão, assim será?
Por companhia tenho só meu choro e medo.

Por esta falta, esta ânsia do teu seio
eu me limito a te lembrar do meu temor:
pois eu esqueço nessas linhas que não leio
de esquecer que meu desejo é teu amor.

Eu só queria entender. Mas, quem disse
que o amor é algo pra se explicar?
Sem rima, continuo tão distante.


Publicação de 09/03/09 em http://fa13jornalismo.blogspot.com